Uma parte ainda inédita da história colonial do Ceará passa a integrar os autos de nossa literatura, retirada de documentos oficiais manuscritos dos acervos do extinto Conselho Ultramarino português, órgão responsável pela administração das colônias, e de nosso Arquivo Público. Eles estão reunidos no livro "Documentos para a História Colonial, especialmente a indígena no Ceará (1690-1825)", do historiador e atual secretário da Cultura do Estado Francisco Pinheiro. O livro será lançado, às 19 horas, nos jardins da Reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC).
São relatos de jesuítas, representações de Câmaras municipais, vigários, povos indígenas e outros documentos oficiais. O foco da pesquisa é a história dos povos nativos. Pinheiro já havia publicado sobre o tema artigos, como "Mundos em confronto: povos nativos e europeus na disputa pelo território", editado no livro "Uma Nova História do Ceará", de Simone Souza.
O recorte trata do início do processo efetivo de ocupação do Estado, com ação de pecuaristas e o aldeamento dos povos indígenas pelos jesuítas. Os documentos foram reproduzidos integral ou parcialmente e organizados em sete capítulos. Em cada um deles, o pesquisador faz uma pequena apresentação ao conteúdo documental reunido. O trabalho incluiu além da seleção, digitalização e organização dos documentos, em sua maior parte manuscritos, a articulação de diferentes documentações sobre um mesmo assunto, permitindo, por exemplo, acompanhar a resposta do Conselho a uma representação da Câmara de Aquiraz ou a reunião de 30 documentos referentes ao mesmo processo. Isso, como ressalta o autor, permite ao pesquisador "acompanhar toda a trama que envolveu as idas e vindas do processo na época em que este foi gerado".
Pinheiro destaca ainda a reprodução de documentos importantes para o entendimento da dinâmica política e social da época, como a representação feita pela Câmara de Fortaleza à Rainha Maria I solicitando a cobrança de imposto sobre a produção de algodão e apresentando uma proposta de desenvolvimento para a Capitania.
A resposta dada pelo Conselho Ultramarino altera completamente a proposta inicial, indicando entra as alterações, por exemplo, uma possível taxação sobre a produção de aguardente para o mercado interno. De acordo com o pesquisador, este é apenas um entre os muitos exemplos em que a reprodução encadeadas dos documentos permite ao pesquisador acompanhar essa dinâmica. "O debate entre os interesses do espaço colonial e as determinações da Metrópole", escreve.
Acervo
A documentação fornecida pelo Conselho Ultramarino constitui a maior parte do material publicado. Fundado em 1642, o órgão centralizou a administração das colônias portuguesas, entre elas, Guiné Bissau, Ilhas de São Thomé, Cabo Verde e o Brasil. A documentação registrada pelo órgão, que esteve em atividade até 1833, atualmente se encontra no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa (AHU) e está sendo digitalizada pelo Projeto Resgate, parceria entre Brasil e Portugal em atuação desde 1996, que já classificou, microfilmou, digitalizou mais de 340 mil documentos relativos às 18 capitanias da América portuguesa.
Os documentos que tratam de questões administrativas da Capitania do Ceará são mesclados a correspondências dos representantes do poder metropolitano colonial, como o capitão-mor (governador da capitania), ouvidor (encarregado pela justiça), provedor (pela arrecadação), além de relatos de missionário jesuítas, representações das câmaras municipais, de proprietários de terras, povos indígenas, etc. Além do acervo inédito e manuscritos, compõem o livro documentos já transcritos em livros por autores como Serafim Leite, jesuíta encarregado de escrever sobre a Companhia de Jesus no Brasil. A obra, reforça Pinheiro, irá facilitar o acesso a documentos que, de outra forma dificilmente poderiam ser acessados.
Mais informações:
Lançamento do livro
"História Colonial", do secretário da Cultura, Professor Pinheiro.
Às 19 horas, no auditório da Reitoria da UFC (Av. da Universidade, 2853 - Benfica). Contato: (85) 3366.7300
LIVRO
"Documentos para a história colonial, especialmente a indígena no Ceará"Francisco José Pinheiro
Ana Lima
2012, 264 páginas
R$ 30
Fonte: Diário do Nordeste
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